Não faz muito tempo, a fragilidade do sexo feminino estava constantemente na pauta do dia, sendo discutida pelos meios de comunicação e tida como certa por boa parte da sociedade. Hoje vivemos na era da mulher moderna, e o título de sexo frágil se mostra cada vez mais ultrapassado e equivocado. Atualmente as mulheres ocupam cargos nas mais diversas esferas, acumulam as mais variadas funções, encaram todo tipo de desafio e representam uma parcela significativa do mercado de trabalho. Tais fatos comprovam toda a força da mulher, mas também vêm incomodando inúmeros integrantes da ala masculina. Muitos ainda insistem em um discurso machista e preconceituoso, que, por longos anos, foi indevidamente disseminado sem nenhum pudor.
Movidos por essa linha tão retrógrada de pensamento, muitos acreditam que o movimento pela moradia deveria ser uma exclusividade dos homens. Afinal, não seria nada adequado às mulheres, consideradas “frágeis”, estar entre blocos, cimento, pás e enxadas.
Bom, da minha parte, posso afirmar que, aqui no movimento, as mulheres não só marcam presença, como também dominam o cenário na busca pela moradia, mostrando que de frágil não têm nada. Primeiramente elas se destacam já pela quantidade, o número de mulheres nas reuniões é expressivamente maior do que o de homens. Esse fato gera certa estranheza aos que acreditam que o movimento, por se tratar da construção de casas, deveria ser composto em sua maioria por homens, pensamento que também é uma forma de preconceito, mas que pode ser facilmente esclarecido quando se entende que a luta por moradia é um direito de todos, não devendo ser limitada por questões de gênero, verdade tão bem traduzida pela pluralidade e pelo alcance do nosso movimento social.
As razões por números tão expressivos se dá pelo fato de que, no Brasil, a quantidade de mulheres casadas, solteiras, separadas e viúvas supera a de homens nas mesmas condições, e isso já há quatro décadas. Outro estudo aponta também que as mulheres se tornam independentes e constituem um núcleo familiar de forma muito precoce e, na maioria das vezes, sem uma figura masculina, o que coloca grande parte dessas mulheres também na condição de chefe de família, mesmo que de forma involuntária. Em dez anos, quadruplicou o percentual de mulheres chefes de família – principais responsáveis pelo sustento da casa. O IBGE está deixando de usar o termo “chefe de família” e trocando-o por “pessoa de referência”. O significado é o mesmo: pessoa responsável pela maior fonte de renda do núcleo familiar. Devido à ausência de estrutura familiar, o impasse encontrado por essas responsáveis está relacionado à falta de moradia. Por isso, elas veem em programas como o “Minha Casa, Minha Vida” uma solução para esse problema.
Mas as mulheres não se diferenciam apenas pela superioridade numérica, pois números por si sós não dizem nada, mas principalmente pela garra, força e perseverança que as mantêm firmes durante todo o processo de luta, trabalhando no sol ou na chuva, sem se intimidar por nenhum obstáculo e motivadas pelo imenso desejo de conquistar uma moradia. E é essa capacidade de ir em busca de seus direitos e objetivos, sejam eles a casa própria, sejam eles a presidência da República, que me faz afirmar, com toda certeza, que as mulheres são as grandes protagonistas desta era moderna.
Com esses e tantos outros exemplos, elas provam a cada dia que ainda não inventaram algo que não são capazes de realizar. O universo machista precisa entender que toda mulher – independentemente de cor, raça, religião, sexualidade – tem os mesmos direitos na sociedade e, o mais importante na minha opinião, deve ser tratada com respeito e dignidade, algo que infelizmente nem sempre acontece na atual conjuntura em que vivemos.
Desejo que as mulheres deste mosaico cultural que é a nossa pátria floresçam cada dia mais, porém não apenas nos movimentos populares, mas em todos os setores, em todas as esferas; e que continuem provando para a sociedade que esse estigma de fragilidade não foi, não é e nunca será compatível com as mulheres do nosso país.